A cidade do Maputo não prima pela limpeza. Existe um esforço da Câmara, existe até um serviço de recolha do lixo, que funciona tant bien que mal, mas não se pode dizer que a cidade seja limpa.
Vários factores contribuem para isso. Salta à vista que ruas cheias de gente e falta de apoios básicos de higiene constituem crasso erro, a população não sabe onde deitar papeis, ou embalagens vazias, a não ser nos contentores, insuficientes e permanentemente cheios.
Já vi um vendedor de fruta comer gostosamente uma banana, pegar na casca, colocá-la num saco de plástico, fechar o saco de plástico com um nó e depois deitar tudo aquilo na sarjeta. Falta cidadania, aqui como em tantos outros sítios de países que se consideram civilizados. A enorme poluição automóvel, a falta de sanitários públicos, o vento que leva a areia de alguns passeios a rodopiar por todos os lados e a entrar sem convite pelas nossas casas, tudo isto faz parte do Maputo da pouca limpeza. A tudo isto acresce os muitos prédios por reabilitar, todos de um tom acinzentado que resulta do muito sol, muita chuva e muita falta de tinta, que dão à cidade um certo tom nostálgico e decadente, que fazem parte do seu charme.
Contudo, o parque automóvel no Maputo é limpíssimo. Um batalhão de miúdos diariamente lava os carros. Organizam baldes de água, improvisam escovas e panos: onde quer que se estacione aí vêm eles a imporem uma lavagem que acabamos por aceitar para não os ouvir e para acalmar a nossa consciência de gente mais abastada.
Cada lavagem corresponde a 50 meticais. Se lavarem 5 carros por dia, fazem 250 meticais, em 10 dias de lavagens fazem o ordenado que o operário (pago pela tabela) aufere ao fim do mês.
E pelo meio conversam, jogam às damas em tabuleiros improvisados e sentem o cheiro da liberdade, como só quem anda pela rua conhece.
O clima ajuda. E a inconsciência também.
E os dias passam devagar.