Tenho vivido neste gelado Norte; a viajar com o credo na boca por causa dos persistentes nevões e dos aeroportos bloqueados - a natureza mais forte que a tecnologia; a observar com atenção como, neste hemisfério rico, se pensa na crise em termos de menos euros para gastar, a subsistência - claro está - sempre garantida, em causa sobretudo o supérfluo. Ainda assim e sem dúvida crise, mas talvez de outras coisas.
Sobre isso pouco a dizer, até porque para a sobrevivência de todos, o grupo que se dedica com afinco, criatividade e persistência às compras faz maningue falta. Mas confesso que me incomoda esta coisa do Natal, visto em termos da quantidade, do ter, do comprar.
E dou por mim, a escassos dias do Natal sem uma compra feita, um menu pensado, e sem qualquer vontade de entrar nesse esquema e - e isto é admirável - a pensar também que a coisa me interessa pouco. Talvez influências de um distante, saudoso e lento Índico.
Gosto.
Também, pelos debates que vejo na televisão dos promitentes presidentes desta república à beira Atlântico, reparo que a pobreza está em alta no teor dos argumentos, referências à importância de ter visto putos a correr atrás de galinhas para roubar o sustento que as ditas levavam no bico, a putos a ir descalços e com frio para a escola, esgrimem-se argumentos que me parecem mais pertencerem a debates da televisão de países em desenvolvimento, que da mimada UE. As questões político-constitucionais omissas: dará muito trabalho estudá-las?
Tenho saboreado bastante as teias de afectos que por cá deixei.
Gosto muito.