se vai ao longe? ou nunca se chega? Em terras do Índico, vamos abrandar...
26
Abr 11
publicado por devagar, às 11:31link do post | comentar

Os dias já vão curtos, a estação está a mudar, também já baixou a taxa de humidade e consegue-se gozar o calor sem nos sentirmos pegajosos: está muito bom!

Não é só por isso que tenho sido parca nos meus posts. Ando em período de reflexão.

Tenho tentado compreender os tugas daqui, o que é um exercício fascinante. Gosto de ouvir o que dizem descontraidamente à mesa do café, debitando para quem quizer ouvir. Desde os pouco ou nada viajados aos verdadeiros globetrotters. Tento analisar até que ponto a multiculturalidade da terra levou a que os tugas se encarassem a si próprios, ao mundo e aos outros de forma mais aberta. Ou seja se o ambiente teve influencia nas suas percepções, o que é um exercício sem qualquer utilidade e puramente académico.

A minha mãe diz que nada é mais atrevido que a ignorância. Aqui há o ignorante-ingénuo que parece atrevido e há o ignorante-a-fingir-que-não-é e que de ingénuo tem nada e cujo verniz tem camada finissima, diz montes de asneiras, e falta-lhe o ingrediente que torna o ignorante-ingénuo tão charmoso: a humildade. Depois há as pessoas mundanas, viajadas, que falam pouco, têm imensas dúvidas, e que ideologicamente vão pairando acima das questões primárias e infantis do eu sou melhor do que tu.

Quanto menos viajados mais desconsideram as outras culturas. E na minha modestissima e falível taxonomia esta espécie abunda e multiplica-se como planta infestante.

Interessante seria poder fazer as minhas análises em território não tuga/europeu/ocidental, tarefa dificil, porque são territórios fechados que não aceitam a presença de outsiders.

Nesse sentido o tuga disponibiliza-se para aceitar o outro no seu território, a maioria critica a diferença, que não compreende, mas tolera, melhor seria se respeitasse. Também existe, em amostragem expressiva, um grupo de casais mistos, muitos tugas, mas também europeus de diferentes origens, emparceirados com mulheres ou homens de cor.

Isto são tudo observações falíveis, que vou coleccionando, a ver quem frequenta e a ouvir conversas de café.

E assim tenho andado entretida, a tentar não por etiquetas a ninguém, para não fazer julgamentos precipitados.

 

As mentalidades mudam muito devagar.


05
Abr 11
publicado por devagar, às 20:02link do post | comentar

O país é imenso. Não só porque efectivamente o é - e basta olhar um mapa - mas porque a viagem se faz lenta, penosa e dificilmente, o que, quando tudo corre bem, constitui o seu inegável charme.

Fazer quilómetros não é tarefa fácil. Distâncias curtas podem demorar muitas horas. Um bom autocarro com televisão e ar condicionado (um luxo para a magra carteira moçambicana) leva das 3 da manhã às 6 da tarde para ir de Maputo para à Beira (quem pode vai de avião), imagine-se então o que demora o maxibombo popular...

Escapadelas turísticas com percursos gastronómicos são conceitos ocidentais. Aqui há poucas estradas, muitas em más condições, que nos obrigam a pensar onde abastecer, onde pernoitar, o que levar, o que pode fazer falta. Na lista é essencial não esquecer um cabo para rebocar carros atascados na areia, água para nós e para o carro, lanterna(s), repelente de insectos, comidinha porque tantas vezes não há nada pelo caminho e quando há não tem as condições mínimas, dodots que são essenciais e salvam muitas situações, e se já se está minimamente familiarizado com o modus vivendi local uma ou 2 capulanas, que dão sempre jeito e servem para tudo.

Básico é não sair da cidade sem o depósito atestado e com dinheiro vivo na carteira, há imprevistos e ATM's que não funcionam. Tudo isto é muito complicado para quem vem de um país dito civilizado, julga com facilidade e rapidez e pensa que tudo funciona aqui como funcionaria lá.

Da última vez que fomos à praia da Macaneta, rebocámos por 2 vezes o mesmo carro de um brasileiro, um Ford 4x4, que noutras mãos não teria precisado da nossa ajuda, mas que se nós não ajudássemos ainda agora lá estaríamos. E isto antes de chegar à praia, que estava fantástica, e que na realidade fica só a uns 35 quilómetros do Maputo.

No regresso, a curta distância transformou-se em cento e tal quilómetros, que nos levaram 6 horas a fazer. Porque o batelão que usamos para atravessar o rio - a praia e o mar ficam do outro lado - se avariou. Houve várias tentativas para o arranjar, todas goradas, e uma imensa fila de carros cujos passageiros, eu incluída, esperaram pacientemente horas quentissimas da tarde, na esperança de uma solução - que não veio. 

E como ficámos do lado errado, para voltarmos para o Maputo tivemos que andar por trilhos de areia, em comboio de imprescindiveis 4x4 (solidário excepto 2-Tugas-de-critica-fácil, que bazaram sem dar satisfação, enquanto nós esperavamos por eles estoicamente 1 hora no meio do mato) com guias locais e a depender de autorização para atravessar a enorme plantação e fábrica de refinação de açúcar da Maragra, que por acaso até se podia atravessar, porque alturas há do ano em que a água do rio não permite tal aventura...

Casas de banho, gasolineiras, bicas, água, sandes, revistas, jornais, assistência em viagem, estradas principais e secundárias - nada. Cada um sobreviveu com o que tinha e não ouvi ninguém queixar-se.

Dei comigo a pensar, devagar, que governança, lei e ordem necessitam de vias de comunicação operacionais. Quando não as há impera a lei do mais forte, que empunha o chamboco (= pau) e bate no mais fraco até o ouvir cantar o Mama Ué.

Pensei muitas outras coisas, mas ficam para outra vez.

Ilusões?

Vida d'África.


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