se vai ao longe? ou nunca se chega? Em terras do Índico, vamos abrandar...
25
Ago 11
publicado por devagar, às 14:59link do post | comentar | ver comentários (1)

Todo o estrangeiro que vive no Maputo conhece a Migração. Serviço incontornável se se quiser estar legalmente neste país. Nele se obtém um documento, o DIRE (direito de residência), que nos permite sair e entrar livremente do país, identificarmo-nos e obter outros documentos, caso do NUIT (= ao nosso NIF) etc. Não ter DIRE e andar ilegal leva ao pagamento de uma multa por dia de ilegalidade e à saída do país, na base do 20/24 (=20 quilos/24 horas).

Tudo coisas que não queremos experimentar.

Também faz parte das boas práticas que todo o estrangeiro, pelo menos na primeira vez que tenta obter o dito DIRE, contrate os serviços dos intermediários locais que aplainam as amarguras da espera nas filas, quase todas intermináveis, e nos conduzem pelos meandros de uma burocracia que teima em não se fixar e insiste em variações anuais, que nós não entendemos, mas que eu (avisadamente) nem discuto, por total perda de tempo.

O DIRE é caro, devia ser de graça para os naturais dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) mas apesar das insistências do nosso MNE, pagamos exageradamente. Tem a validade de um ano, que teima em passar muito mais depressa do que desejamos, mas na realidade vale 11 meses, porque leva cerca de 30 dias a renovar, e nesse período se quisermos sair do país temos que pedir e pagar uma licença extraordinária, o que dá mais filas,  mais contratações de gente local, o que quer sempre dizer mais uns meticais adiantados, e se for urgente complica e encarece.

Mas eu até levo numa boa, porque enquanto espero, e só espero por causa da fotografia -- que tem que se tirar lá, o que me torna mais velha e feia, mas como acontece as todos nada há a apontar -- é que enquanto espero vou vendo as mais variadas gentes, vestidas das mais variadas maneiras e pasmo com a diversidade do mundo do Índico, tão inusitada para os meus olhos mais acostumados ao Atlântico. E gosto também de ver como no meio daquilo que parece um espaço extremamente desorganizado, as coisas funcionam numa lógica que não sendo a minha, é sem dúvida uma lógica.

Fico entretida, o que nem todos compreendem...penso até que me acham um pouco exótica. Tant pis.

Mas desta vez esperei demais. Porque eram tantos os Chineses que tentavam obter o primeiro DIRE, que quem atendia tinha a maior das dificuldades em digitalizar os dados de identificação destes novos imigrantes. Nome próprio, do pai e da mãe, local de nascimento...letra a letra, palavras sem fazerem sentido nenhum nas cabeças africanas, um sofrimento para quem atendia e para quem esperava, cada chinês 20 minutos no mínimo, e eram muitos.

Quase um caos.

Imensamente d-e-v-a-g-a-r.


17
Ago 11
publicado por devagar, às 06:40link do post | comentar

Ninguém está preparado para o mau tempo nesta terra de África.

Desde Domingo que está muito frio e passamos mal, as casas estão impreparadas, entra ar por todas as frechas, não há nem porta nem janela que feche bem na maioria das casas, o parque habitacional não leva obras há muitos anos e as construções antigas têm paredes finas e materiais porosos. Está mais frio dentro de casa que na rua, mas não se pode passar o dia na rua.

O problema maior é a humidade, que torna o frio mais frio (80% de humidade relativa é uma constante, piorando às vezes), aliada ao vento, que torna o que é frio gelado. Depois há dias de chuva, e tem estado assim, e eu penso em Lisboa, nos seus piores dias de Inverno e no conforto dentro da minha casa.

Vejo a incredulidade dos turistas, que meteram na cabeça que vinham para um sítio quente, totalmente impreparados para enfrentar este clima, que não vem escrito em nenhum dos guias que consultaram. E não há roupa quente à venda, porque nas poucas lojas em que os turistas poderiam comprar já se fizeram os saldos de Inverno e as montras apresentam roupas leves.

Um amigo nosso chama-nos a atenção para o mapa: não existe nada entre o Maputo e o gélido Pólo Sul, quando sopra de lá, chega mesmo aqui. É o caso, agora.

Não há nem desumidificadores nem aquecedores à venda. Então agarramo-nos a mantas de lã polar, que são leves e quentinhas, maldizemos a sorte, consultamos muito a net a ver quando acaba. Parece que no fim de semana já temos tempo normal.

Os guardas (=porteiros) que dormem sentados e gelados no átrio dos prédios, com kispos e gorros de lã, andam todos doentes e parecem lagartos durante o dia à procura de sol para ficarem quietos a tentar aquecer.

No meio desta vaga que nos assolou agora e quando não chove há umas horinhas de sol, que compensam um bocadinho mas não chegam para secar a humidade que se pega à pele. E que nos obriga a não fechar bem as portas os armários de roupa para o ar circular e não haver mofo, que há.

Andamos mesmo devagar.

 

 


13
Ago 11
publicado por devagar, às 07:12link do post | comentar | ver comentários (1)

Gostamos de ir à África do Sul, aqui ao lado, são cerca de 90km até à fronteira, o que não é nada e faz-se em auto-estrada.

Isto é tudo muito relativo, porque os 90 km fazem-se bem dependendo do trânsito e dos acidentes, mas nem me vou alongar neste aspecto porque é assim mundo fora. Quanto a auto-estrada, também teremos que relativizar, porque grande parte é apenas uma estrada, sem separadores centrais, com uma pista em cada sentido, se bem que com bermas alcatroadas que os carros mais lentos e os grandes camiões utilizam para deixarem os mais ligeiros e velozes ultrapassar, com carros que param e pessoas que atravessam, paragens de chapa e de machibombo, operações stop da polícia para sacar dinheiro aos sul aficanos (param-nos muitas vezes porque nos confundem, mas quando nos ouvem falar português mandam-nos avançar)...mas é uma estrada permanentemente mantida e em bom estado, é sul africana, liga à N4 que leva a Pretória e a Joanesburgo. Na portagem, que é cara para o bolso moçambicano, raras vezes dão recibo, mesmo pedindo, e só aceitam numerário.

Levamos tudo isto numa boa e atravessamos a fronteira com frequência, quer para espairecer pelo Kruger Park, Mapumalanga e redondezas, quer para ir às compras a Nelspruit (que tem 2 centros comerciais enormes, vários e bons supermercados, farmácias cheias de remédios e todo o tipo de comércio bem organizado) quer para ir ao médico, ao dentista ou optometrista, ou até para cortar o cabelo, tudo eficiente e mais barato do que em Lisboa.

E vamos muitas vezes só mesmo porque apetece comer outras comidas, ver outros livros, ouvir outras músicas, poder escolher CD's que não estão marados, ver outras culturas, outras organizações, outras limpezas, fartura de casas de banho, etc.

Tudo isto faz parte de se viver no Maputo.

Dificil por vezes é passar a fronteira. Estamos sempre à espera de atrasos, filas, complicações...de tal maneira que quando tudo corre bem entra por nós uma invulgar sensação de alívio, misturada com alegria e com o wishful thinking de que as coisas estão a melhorar. Acontece exactamente o oposto quando as coisas não correm bem.

Ontem correu-nos especialmente mal, uma fila enorme, gente a empurrar, desrespeito total pelos lugares que cada um ocupava na fila, por mães com bebés de colo e pessoas mais velhas. Aprendi que o pior de tudo é coincidir com autocarros de passageiros excursionistas, porque as hospedeiras da organização (nome local para as guias) subvertem toda a lógica da espera, num esquema de pagamentos escondidos e carimbos mais rápidos, que depois é imitado por quem segundos antes estava tranquilamente na fila e quase leva a tumultos. Às claras, o câmbio de divisas (proibido), o dizerem-nos que nos levam para à área vip, que não existe mas que significa passar à frente de todos e que custa 200 meticais/4€. E nós, que decidimos que íamos ter paciência e esperar, porque não queremos entrar neste tipo de esquemas, vimos incrédulos o perfil de quem não resiste a ser vip e o rápido e lucrativo negócio que por ali se faz, nas barbas da autoridade, que fecha os olhos porque quer.

Por todo o lado há posters a dizer como se deve fazer, para esperar ordeiramente, para não dar dinheiro à toa, para exigir recibo.

Ninguém respeita.

E tudo anda devagar.


02
Ago 11
publicado por devagar, às 15:02link do post | comentar | ver comentários (4)

... devagar, como tudo o que por aqui acontece.

Com (até ver) uma única excepção: o fim do mês, que é sempre de grande alvoroço, com muito movimento nas ruas desta cidade. Depois tudo volta à normalidade lenta do dia-a-dia sempre mais ou menos igual.

Os vencimentos aqui pagam-se no dia 30 ou 31, conforme os dias que o mês tem, e quando o último dia é num Domingo ou Feriado, como aconteceu neste mês de Julho, então os vencimentos pagam-se no dia 1. Um esquema muito rígido, mas os moçambicanos gostam das coisas bem definidas...disso tenho exemplo flagrante cá em casa pela forma sempre idêntica e pouco criativa com que a Felismina se atira à cozinha e se falta um ingrediente, por mínimo que seja, tipo folha de louro, já a tenho ao pé de mim com cara de caso como se tivesse que enfrentar um problema do tamanho do mundo...

E no dia santo do ordenado são filas intermináveis nas Caixas ATM. E palmilham-se as distâncias necessárias que a malta aqui é extremamente fiel ao seu balcão, se não o for paga taxas bastante mais altas, incompatíveis com os magros salários, mas isto são coisas dos países em desenvolvimento, porque no desenvolvido reino dos Tugas ninguém as paga, e por lá a malta refila imenso sem saber que está até muito bem, comparativamente às realidades daqui.

Também é dia de grandes bebedeiras, acidentes de automóvel e alta actividade dos carteiristas, num esquema também rigido, como os moçambicanos tanto gostam.

Aqui em casa optámos por pagar na 6ªfeira dia 29, para sossego nosso e grande alegria (e alívio) da Felismina.

Ando naquela fase em que tudo faço para evitar o stress - algo que os moçambicanos praticam muito bem, excepto nesta concentração de pagamentos e levantamentos do último dia do mês.

Eu estou a fazer tudo devagar.

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