se vai ao longe? ou nunca se chega? Em terras do Índico, vamos abrandar...
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Set 11
publicado por devagar, às 16:06link do post | comentar | ver comentários (2)

Neste continente passam-se coisas que só são do conhecimento de quem por aqui anda.

Os relatos dessas mesmas coisas têm alimentado um imaginário literário, cheio de aventuras românticas e rocambolescas, com heróis fantásticos, nativos estúpidos, exotismos e cenas imaginadas e na prática inviáveis. Caso do Tarzan of the Apes, (1912) com herói de sangue azul, pele branca, criado por macacos e que aprende a ler sozinho, ou mesmo o Tintin au Congo, (1931) cuja visão depreciativa e racista dos nativos o impede hoje em dia de integrar o acervo de muitas bibliotecas infantis.

Estas visões utópicas de África ainda continuam a atrair muitos turistas ocidentais, talvez por serem tão diferentes do life style do betão civilizado das catedrais de consumo e da sociedade formatada por Bruxelas ou Washington. É vê-los chegar aqui vestidos para o tour e a aventura de África, muito caqui e muitos gadjets que não servem para nada. Andar no mato requer treino físico, disciplina e competências específicas, entre as quais o descaso pelo conforto e a flexibilidade mental. Não estou a ver nenhum daqueles turistas a enfrentar o mato sozinho...

Aqui há o desenrascanso generalizado de que já tenho feito relato e há a natureza em estado bruto que não se domestica. E heróis não existem, apenas gente que pretende sobreviver, o que nem sempre é fácil.

Isto a propósito de um trabalhador da Mozaperfis que foi enviado na semana passada de avião para Pemba (ex-Porto Amélia) para instalar janelas e portas de alumínio em construções recentes de algumas agências bancárias. Ora estas não estão no mato, onde não há população a fazer depósitos e a utilizar ATM's. E Pemba, cidade costeira capital de Cabo Delgado e com grande relevância económica, tem aeroporto e comunicação aérea diária para o Maputo, porque o país é de uma dimensão assustadora e não há auto-estradas, às vezes nem estradas... Esse trabalhador deslocava-se com o engenheiro dono da obra de carro ao fim do dia, e a noite no hemisfério Sul cai rápida. Na estrada foram surpreendidos por alguns populares com archotes a mandá-los parar. Aqui por regra não é aconselhável parar na estrada escura, archotes ou não, e eles continuaram. Mais à frente voltaram a ser interrompidos por archotes e os sinais da população para que parassem - é que bem à frente deles passava uma enorme manada de elefantes na estrada. Conseguiram fazer marcha atrás e mudar de direcção, enfrentando o medo que sentiram: há várias notícias de elefantes que matam pessoas...

Na zona há muitas manadas de elefantes a importunar as populações, e há necessidade ou de matar alguns ou de os recolocar, o que nem sempre é fácil e fazendo-se não tem garantias de eficácia. Famílias de elefantes que foram sedadas no Kruger Park, transportadas para a Gorongosa e devolvidas ao mato moçambicano voltaram para o Kruger Park, não se entendendo a bússola que possuem. Mas possuem.

E ninguém quer ter a aventura de andar na estrada e cruzar-se com elefantes em movimento. A população defende-se com o ancestral fogo e avisa quem passa, porque também quer ser avisada quando em situação análoga. Não há por aqui nem 112 nem protecção civil que se chame numa situação destas.

Tudo isto anda devagar.


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