Cheguei aqui há duas semanas, vinda de África.
Tenho viajado imenso, estive em Kiev e em Tallin e para a semana vou a Moscovo. É bom, permite-me relativizar a minha vida no Maputo, o bom e o menos bom.
Chego à conclusão de que posso viver em muitos sítios, desde que o meu quotidiano seja partilhado com quem quero. Saber que sou capaz de me adaptar convence-me que a minha cabeça é deste tempo e as reflexões que faço partilháveis aqui.
O que vejo faz-me pensar que este mundo se julga primeiro, mas de facto não o é. O mundo deste hemisfério está indignado, refém de bancos falidos, gestores corruptos e políticos deslumbrados (qualificativos habituais dos africanos) com protestos a subir de tom, taxas de desemprego incontroláveis, cortes nos subsídios, orçamentos vorazes, em busca de soluções que perpetuem o status quo, em vez de consertarem.
Valores? solidariedades? - nada. O mundo global está em difícil construção e só se pode andar para a frente, embora ninguém saiba em que direcção.
Talvez valesse a pena sair da europeia e ocidental zona de conforto e de certezas e descobrir outros modelos e outras formas de pensar, que as há de vulto.
E descobrir o Ubuntu, que é africano mas que faz uma danada falta neste hemisfério doente, e que diz que uma pessoa se torna humana através das outras pessoas: eu sou o que eu sou, porque nós somos o que somos.
Por aqui o nós está pesado e em risco de se desumanizar.
Respirar e reflectir - devagar.