se vai ao longe? ou nunca se chega? Em terras do Índico, vamos abrandar...
27
Fev 12
publicado por devagar, às 14:11link do post | comentar | ver comentários (3)

As semanas são complicadas...e os fins de semana também.

Quando voltamos da Europa, demoramos algum tempo a habituarmo-nos à vida d'África, sobretudo a desligarmo-nos do mercado de consumo, da facilidade com que se compra uma revista, se come um gelado, se vai ao cinema, se passeia a pé...

Aqui, nos fins de semana as opções não são imensas.

Se quisermos sair do Maputo urbano, temos que nos organizar (mental e fisicamente) e nada funciona da mesma maneira. Andamos 'para trás' no tempo e não podemos contar com as facilidades da vida moderna. Dependemos de viaturas 4x4, 'colmans' para guardar os 'frios', comida cozinhada... e temos que, durante a semana, combinar o que se leva, quem leva, quantidades...E como há semanas muito cansativas, sobretudo devido ao calor e à humidade, temos necessidade de abrandar no fim de semana - sair do Maputo não é programa que se faça com imensa regularidade.

Aqui há o hábito de se almoçar fora em família ao Domingo, que também praticamos, sobretudo se nos desafiam. Porém, quando se come fora, (des)espera-se geralmente mais de uma hora... e não é por falta de pessoal, é mesmo devagar.

E há coisas (para nós) inconcebíveis, que são culturais e temos que respeitar...como restaurantes de dimensão pequena com música altíssima ao vivo no almoço de Domingo, a arruinar qualquer hipótese de conversa ... mas, a ajuizar pela frequência, é investimento de garantido retorno para proprietário de restaurante.

Ir para as praias, que distam centenas de quilómetros, nem sempre se pode. Resulta melhor se formos em grupo, porque implica organização e planeamento (infraestruturas e comidas) pois pode acontecer, em pleno verão, não conseguirmos um restaurante decente nalguns locais fora do Maputo: a escolha é limitadíssima, excepção feita à Macaneta, mas há que enfrentar um batelão pequeno, uma fila de carros à torreira do sol para o apanhar, e levantarmo-nos muito cedo para minimizar estes transtornos...e nem sempre estamos com disposição para isso.

Neste Janeiro, época das férias grandes, numa semana que passámos no Bilene só havia frango ou lulas, com batatas fritas cheias de óleo ou repolho cozido passado por óleo...e, apesar de muitas tentativas, nem um gelado conseguimos encontrar e estava um calor abrasador.

Os abastecimentos aqui são muito complicados, quando se vai em grupo leva-se tudo, que dividido por vários custa pouco, e se vamos só nós, temos que ter o maior cuidado para não sermos totalmente depenados enquanto nadamos (nalgumas praias 'desertas' há gente à coca)...

Mas a experiência do mar é tão absolutamente fantástica que vale sempre a pena o esforço da organização, da viagem e o calor.

E tudo isto se faz devagar.

 


17
Fev 12
publicado por devagar, às 07:43link do post | comentar | ver comentários (2)

A vida em Maputo está cara. Para os expatriados tugas, o dia-a-dia é mais dispendioso do que em Lisboa.

A razão principal é a valorização artificial do metical, que não corresponde a desenvolvimento sustentado, antes à necessidade de manter a estabilidade dos preços e evitar a todo o custo a inflação, para não haver perturbações sociais.

A memória das sublevações de Setembro 2010, que isolaram o Maputo do cimento...com pneus a arder nas ruas, bloqueadas pela população dos bairros, a greve dos transportes urbanos, o batalhão de desempregados na rua (cujo dia-a-dia é feito de biscates) a recusar o aumento do pão e do preço dos chapas, fez recuar quem decide: a rua venceu e os preços desceram. A lição foi aprendida, por um partido único que teme a oposição interna, quer popular quer dentro do próprio partido, e com eleições em 2014 é bom que tudo esteja calmo.

Há uma ano trocava-se 1.000€ por 47.000 meticais, agora aqueles euros valem apenas 34.500 meticais. Igual descida sofreu o dólar (e aqui tudo se reporta ao dólar). O preço do açúcar, produção nacional consumido em quantidades assustadoras, desceu. Estável o preço do pão, leite, arroz, amendoim, banana, frango e carapau.

Mas quem paga renda de casa em dólares sofreu aumentos substanciais, do tipo pegar ou largar (relatei no post anterior), os senhorios acertaram o cambio do dólar para manterem o seu equilíbrio orçamental. O parque habitacional de Maputo está caríssimo e a escolha diminuta.

Quem veio para aqui com um ordenado contratado em dólares de repente recebe muito menos todos os meses - e paga tudo mais caro. Aqui um café custa entre 40 e 50 meticais (se 1€ = 34,5 meticais...o café é mais caro que em Lisboa). Nos centros comerciais onde os contratos de arrendamento comercial têm de ser cumpridos, os senhorios exigem - agora - que as rendas sejam pagas em meticais, porque em dólares estão a perder dinheiro. Se sairmos de Maputo para a África do Sul o câmbio também se alterou, desta vez não a favor dos meticais. E a malta vai-se adaptando, até porque se tornou mais barato pagar as importações, mas quem importa não mexe nos preços: uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.

O país tem um enorme manancial de riquezas, sobretudo gás natural e carvão, cuja exploração carece de investimentos avultadíssimos, que incluem infra-estruturas, um esforço brutal que envolve, entre outros, países como o Brasil, a Índia, a China e a Austrália. Desse ponto de vista, o país cresce ao ritmo que as grandes corporações tanto gostam, quando apresentam os lucros aos accionistas.

 

Aqui no Maputo nada se sente, nas escolas não se investe, na formação de professores também não, fala-se em off da possibilidade da Frelimo abrir a sua própria universidade (?), e a população vive agora exactamente como vivia há um ano.

Contudo, os ventos de mudança estão a avançar, apesar de muita gente ainda se não ter apercebido, e Moçambique é agora altamente apetecível para quem tem músculo financeiro.

No dia a dia tudo devagar.


07
Fev 12
publicado por devagar, às 13:31link do post | comentar | ver comentários (2)

A morar desde meados de Agosto de 2010 em apartamento arrendado no Maputo, que encontrei em anúncio do jornal, com as características que consideramos essenciais, sentia-me privilegiada face a imensos amigos e conhecidos que relatavam ter vivido situações extremas na sua relação com os respectivos senhorios, havendo casos em que o senhorio avisara, de supetão, que tinham que sair - com os respectivos tarecos - no prazo de 5 dias, o que não é tarefa fácil, to say the least.

Tenho um senhoria moçambicana de gema, que assinou connosco um contrato de arrendamento a 1200 USD por 2 anos, renováveis por iguais perídos e com 200 USD de aumento, e que se orgulha de, em tempos idos, a sua família, negra, ser a excepção a residir num apartamento em prédio de brancos e na zona branca da cidade (este mesmo que arrendamos). Essa excepção deveu-se ao facto do seu pai ter pertencido à PIDE/DGS, de que ainda hoje muito se orgulha, e que explica que nas suas veias 'corriam as cinco quinas' e que a impedia de se identificar com a sociedade em que vive, por ter sido educada 'com outros princípios'.

Balelas.

Vila Algarve, perto do meu apartamento, antiga sede da PIDE....em ruínas.

 

Regressados de Portugal a 8 de Janeiro, insistiu com telefonemas e sms nonstop, em ter connosco reunião. Nela, alegou que teria que pagar renda mais alta ao senhorio dela (no apartamento de que é arrendatária) e queria saber 'o que é que nós tinhamos a dizer e como a poderíamos ajudar?'.

Respondemos nada, lamentávamos, porém essa situação não nos dizia respeito. Dissemos mais coisas mas não vêm ao caso.

Não aceitou, insistiu, mostrou um papel onde tinha rabiscado vários cenários, agradando-lhe mais o de 1500 USD mês, mas tinha hipóteses que chegavam aos 1800 USD. Frisámos que tínhamos um contrato até Agosto. Ignorou o que dissemos.

Fomos fazer uma prospecção do mercado, andei à torreira do sol a ver apartamentos, nesta zona e com as condições de segurança e higiene de que não abdicamos, cansei-me a subir e descer escadas, a ver gente esparramada a dormir em cima de sofás, embrulhada em mantas de lã, com o ar condicionado no máximo, enquanto me mostravam um apartamento habitado, em que abriam portas de quartos e WC's com pessoas lá dentro (e que eu dispensava ver...) sem qualquer respeito nem por quem estava a visitá-lo nem por quem ali ainda residia e pretendia fazer do arrendamento o grande negócio da sua vida.

No Maputo há falta de apartamentos, há empresas que chegam aqui e arrendam tudo o que há para os seus funcionários. O dólar desceu face ao metical, que é mantido alto para que não haja inflacção e se contenha qualquer semente de contestação social. O preço dos arrendamentos é absolutamente especulativo: se o governo baixa o dólar, o moçambicano sobe a renda, são os estrangeiros que pagam e esses não contestam...

Depois de muitos telefonemas, muitos estafanços a ver apartamentos, a ficar de cabelos em pé com os preços pedidos e muitas histórias rocambolescas ouvidas à mesa do café....fomos ao encontro da senhoria, no cenário médio, por ser mais barato do que qualquer vislumbre de mudança.

Aqui os contratos - e disse-nos isso mesmo a senhoria - 'não servem para nada' até porque os tribunais não funcionam, ou fazem-no tão devagar que nem vale a pena.

 


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