Ando há cerca de mês e meio a conduzir sem carta de condução, mais precisamente desde que a roubaram na África do Sul.
Passaporte, DIRE (Direito de Residência), documentos do carro, tudo foi fácil, havendo dinheiro é tudo rápido.
O mesmo não sucede com a minha carta de condução.
Trago na carteira uma declaração da polícia sul-africana, em inglês, que informa que a minha carta de condução fazia parte das coisas que me roubaram.
Vale o que vale, mas penso que não valerá assim tanto se me pararem. Porém, percebi também que não tenho o perfil que a polícia procura quando manda parar os condutores, o que faz todos os dias em vários locais da cidade por onde eu ando com à-vontade. Todos se queixam do excesso de zelo da polícia - menos eu.
Até agora passou-se o seguinte:
No Consulado pedi uma segunda via da carta de condução. Fui informada que não podia ser, a lei obrigava-me a ter carta de condução moçambicana, era necessário pedir para Lisboa um print informático da minha carta de condução, depois seria um processo simples, meramente burocrático.
Disseram-me ainda que quando o tal do print chegasse seria avisada.
Demorou 2 semanas e tal, mas lá veio o email e eu lá fui ao Consulado com 10€ cash para o pagar - não aceitam outra forma de pagamento - concomitantemente, o Consulado enviaria por ofício o mesmo documento ao INAV (Instituto Nacional de Viação), para se dar início ao processo.
Correu menos bem, no Consulado não tinham cópia pora mim (!): 'Por lapso não fizemos cópia...mas já pedimos outra, vai chegar depressa, nós assumimos...' (assumem o quê!?!?), esperei mais de 2 gordas semanas.
Nem revelo as coisas horríveis e as palavras feias que me passaram pela cabeça. E não escrevi ao Cônsul a queixar-me do funcionário, apesar de ter vontade.
De posse do valiosíssimo print, vou ao INAV. Tenho que pagar para obter informações. Julgo que estão a brincar comigo, mas estou enganada.
Um dos requisitos é obter uma certidão de registo criminal.
Todo um filme.
Este país tem agora a impressão digital de todos os meus dedos, separadamente e em conjunto.
O local onde se pede (numa transversal da Av. 24 de Julho, que tem o sugestivo e queirosiano nome de Rua das Flores) é exíguo, a fila enorme, não tinha esferográfica comigo, e quem me vendeu os impressos recusou-se a emprestar-me a que tinha na mão. E eu a dizer-lhe que iria preencher o impresso ali mesmo (estive quase a desistir) e a perguntar-lhe porquê ... Respondeu-me que todos lhe pediam a caneta, que não duvidava que eu lha devolvesse, porém depois toda a gente iria pedir-lha, e ela sabia que iria ficar sem a dita.
Compreendi, aceitei que era grave abrir o precedente... e até me solidarizei, não é novidade que por aqui se rouba de tudo e descaradamente.
E fui ao supermercado em frente comprar não uma mas 2 esferográficas porque não vendiam à unidade; onde vendiam, à porta do edifício do Registo Criminal (negócio certo e lucrativo) não me podiam vender porque não tinham troco.
E ainda bem que não desisti, a fila andou depressa. No meio da enorme confusão há uma qualquer organização que põe as coisas a andar e na 2ª feira está pronto.
Decidi contratar alguém para me tratar do que falta - que não é pouca coisa;um pouco na base do em Roma sê romano.
Já não penso mal de ninguém e ando mais sossegada, até porque tenho mais papeis carimbados para a eventualidade de ser parada pela polícia.
Hei-de ter a minha carta de condução, devagar.