O tempo está cada vez mais quente e o ar condicionado trabalha todos os dias mais horas. Falta pouco para o Natal.
Os sul-africanos chegam aos magotes e levam horas de viagem, carregadissimos, com bebidas e comida e com estadias pagas em rand nos bancos sulafricanos... para chegar às praias, designadamente a Ponta do Ouro e Inhambane. Por estes dias, o Tofo parece mais uma colónia de gente loira que outra coisa qualquer. Muita cerveja, muito vinho, muitos braais (=churrasco) muito sol, praia e mergulhos a sério, organizados, com escolas, campeonatos, grupos, equipamento para alugar. E muita gente nas esplanadas e nas ruas à noite, gente nova, música para dançar, cheiro agradável a perfume e a champô.
Maputo fica vazio.
Para mim tudo se relaciona com o Verão - que é a estação que se vive aqui presentemente - e nada com o Natal, mas o natal africano anda por aí e é uma festa de convívio e muita alegria.
O imaginário que se adopta é o do pai natal vestido para o frio - com as mangas compridas, as botas altas e as barbas brancas. Há publicidade na TV com africanos vestidos assim a anunciarem, por exemplo, cartões de crédito, o que para a minha cabeça é uma total aberração, fazendo parte do politicamente incorrecto.
São apenas os meus olhos, que a perspectiva aqui é outra.
E decerto nem se pensa que o imaginário da neve e do frio, com o pai natal puxado pelas renas a distribuir presentes pelas chaminés (os prédios com chaminés aqui são raríssimos, cozinhava-se a carvão - e ainda se cozinha - ou na marquise aberta ou mesmo no pátio dos prédios; a chaminé na cozinha não existe nos prédios antigos - que são quase todos) faz parte de uma herança colonial talvez um bocadinho hardcore, mas ninguém pensa nisso, o que constitui fenómeno interessantíssimo para uma discussão académica, apesar de não levar a lado nenhum nem concluir coisa alguma.
A igreja católica, apostólica e romana aqui é muito discreta: não se lhe vê o protagonismo, que provavelmente terá, mas é low-profile. Também aqui a igreja católica é frequentada sobretudo pelos seniores, porque a juventude gosta mais da abordagem das inúmeras igrejas evangélicas que por aqui se vão estabelecendo - com música, dança e convívio.
Aqui gosta-se da vida e gosta-se da festa.
Falo com locais e tenho respostas curiosas à minha pergunta 'diz-me lá o que é para ti o Natal?'; para muitos, talvez até a maioria, é mais um feriado que é bem vindo; os que não são cristãos, mas têm alguém na família que está casado/a com um/a tuga, que nem vai à igreja, porém e por causa disso, muçulmanos e hindus, familiares, festejam o natal com ceia e bacalhau e trocam presentes, para agradar o/a tuga; presépio? não existe, só mesmo a árvore de natal; e a data em que se comemora o 'natal' é variável, alguns fazem-no a 21, ou 22, porque é sexta ou sábado e há pessoal em casa para lavar a loiça. E quem festeja a 24 ou 25 e se tiver condições para isso gosta de o fazer com caril de camarão, matapa e à beira da piscina, de preferência.
Nos supermercados há algumas (poucas) decorações de natal à venda, todas com cara de terem saído do armazém onde estavam desde a época passada. Mas cabazes do natal há para todos os bolsos, sendo os mais modestos em baldes de plástico, que fazem mais falta do que o cesto.... Algumas lojas dos shoppings onde os estrangeiros fazem compras, investem mais um bocadinho nas decorações, mas sem estardalhaço, que a comunidade internacional vai festejar o Natal aos países de origem. E o Bazar da China - que é um bom indicador - terá umas 8 árvores de natal com umas luzes coloridas, mas não vende bolas nem outras decorações.
O consumismo é que é mega nesta quadra, e quem pode vai fazê-lo na África do Sul, onde alegremente gasta o 13º salário e mais os trocos que tiver e sujeita-se, ano após ano, a filas intermináveis na fronteira, com um calor abrasador, que não penso em experimentar.
Estou a fazer as malas - devagar - para as férias, o frio e o Natal.