se vai ao longe? ou nunca se chega? Em terras do Índico, vamos abrandar...
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Dez 12
publicado por devagar, às 06:35link do post | comentar | ver comentários (3)

O tempo está cada vez mais quente e o ar condicionado trabalha todos os dias mais horas. Falta pouco para o Natal.

Os sul-africanos chegam aos magotes e levam horas de viagem, carregadissimos, com bebidas e comida e com estadias pagas em rand nos bancos sulafricanos... para chegar às praias, designadamente a Ponta do Ouro e Inhambane. Por estes dias, o Tofo parece mais uma colónia de gente loira que outra coisa qualquer. Muita cerveja, muito vinho, muitos braais (=churrasco) muito sol, praia e mergulhos a sério, organizados, com escolas, campeonatos, grupos, equipamento para alugar. E muita gente nas esplanadas e nas ruas à noite, gente nova, música para dançar, cheiro agradável a perfume e a champô.

Maputo fica vazio.

Para mim tudo se relaciona com o Verão - que é a estação que se vive aqui presentemente - e nada com o Natal, mas o natal africano anda por aí e é uma festa de convívio e muita alegria.

O imaginário que se adopta é o do pai natal vestido para o frio - com as mangas compridas, as botas altas e as barbas brancas. Há publicidade na TV com africanos vestidos assim a anunciarem, por exemplo, cartões de crédito, o que para a minha cabeça é uma total aberração, fazendo parte do politicamente incorrecto.

São apenas os meus olhos, que a perspectiva aqui é outra. 

E decerto nem se pensa que o imaginário da neve e do frio, com o pai natal puxado pelas renas a distribuir presentes pelas chaminés (os prédios com chaminés aqui são raríssimos, cozinhava-se a carvão - e ainda se cozinha - ou na marquise aberta ou mesmo no pátio dos prédios; a chaminé na cozinha não existe nos prédios antigos - que são quase todos) faz parte de uma herança colonial talvez um bocadinho hardcore, mas ninguém pensa nisso, o que constitui fenómeno interessantíssimo para uma discussão académica, apesar de não levar a lado nenhum nem concluir coisa alguma. 

A igreja católica, apostólica e romana aqui é muito discreta: não se lhe vê o protagonismo, que provavelmente terá, mas é low-profile. Também aqui a igreja católica é frequentada sobretudo pelos seniores, porque a juventude gosta mais da abordagem das inúmeras igrejas evangélicas que por aqui se vão estabelecendo - com música, dança e convívio.

Aqui gosta-se da vida e gosta-se da festa.

 

Falo com locais e tenho respostas curiosas à minha pergunta 'diz-me lá o que é para ti o Natal?'; para muitos, talvez até a maioria, é mais um feriado que é bem vindo; os que não são cristãos, mas têm alguém na família que está casado/a com um/a tuga, que nem vai à igreja, porém e por causa disso, muçulmanos e hindus, familiares, festejam o natal com ceia e bacalhau e trocam presentes, para agradar o/a tuga; presépio? não existe, só mesmo a árvore de natal; e a data em que se comemora o 'natal' é variável, alguns fazem-no a 21, ou 22, porque é sexta ou sábado e há pessoal em casa para lavar a loiça. E quem festeja a 24 ou 25 e se tiver condições para isso gosta de o fazer com caril de camarão, matapa e à beira da piscina, de preferência.

Nos supermercados há algumas (poucas) decorações de natal à venda, todas com cara de terem saído do armazém onde estavam desde a época passada.  Mas cabazes do natal há para todos os bolsos, sendo os mais modestos em baldes de plástico, que fazem mais falta do que o cesto.... Algumas lojas dos shoppings onde os estrangeiros fazem compras, investem mais um bocadinho nas decorações, mas sem estardalhaço, que a comunidade internacional vai festejar o Natal aos países de origem. E o Bazar da China - que é um bom indicador - terá umas 8 árvores de natal com umas luzes coloridas, mas não vende bolas nem outras decorações. 

O consumismo é que é mega nesta quadra, e quem pode vai fazê-lo na África do Sul, onde alegremente gasta o 13º salário e mais os trocos que tiver e sujeita-se, ano após ano, a filas intermináveis na fronteira, com um calor abrasador, que não penso em experimentar.

Estou a fazer as malas - devagar - para as férias, o frio e o Natal.


05
Dez 12
publicado por devagar, às 10:44link do post | comentar | ver comentários (5)

Raros são os prédios desta cidade que estão reabilitados, até porque um prédio pintado, que é o que se vê aos poucos e muito devagar por aqui, se bem que com a fachada composta tem mazelas inetriores por vezes incuráveis. Circula informação de que há legislação preparada que obrigará os proprietários a responsabilizações várias, porém no papel, preto no branco: nada.

O parque habitacional é antigo, quase todo da época colonial havendo todos os problemas decorrentes da tecnologia de então.Também porque muitos dos prédios foram construídos por patos bravos - com a falta de sentido estético que lhes conferiu a alcunha depreciativa - que tiveram a sua época áurea a partir dos anos 60, aqui como na metrópole, e que o que queriam mesmo era o lucro rápido.

Então as canalizações, as fossas, as instalações eléctricas, os elevadores....tudo está muito velho sendo poucos os prédios onde os elevadores funcionam. É mais barato arrendar um 10º andar - onde não chega o barulho e a vista é soberba - do que um 1º andar, porque ninguém confia na manutenção dos elevadores e ninguém quer subir 10 andares com compras, ou quando se chega de viagem, ou ainda durante um dos cortes de energia com tudo às escuras... 

Outro dos desesperos da muita idade dos flats do Maputo é só haver uma tomada por assoalhada, que nos obriga ao recurso a extensões e mais extensões, sendo de espantar que os fusíveis aguentem todas as sobrecargas...até tento não pensar demais porque não fico muito tranquila.

É claro que prédio que se digne tem baratas.

Grandes e gordas.

No meu flat novo, agora limpo e a cheirar bem, também havia baratas.

E quando há baratas há que encontrar o antídoto - porque nada simples funcionará que elas já estão habituadas aos baygons - a solução é um pesticida que vem numa seringa, de altíssima toxicidade, e que vem, como quase tudo o que não presta, da China: Imidacloprid 2.15% Cockroaches Bait Gel.

Damos connosco a pensar que numa cidade tão poluída e tão porca onde a ecologia e a reciclagem só preocupam mesmo a minoria da minoria, mais poluente menos poluente...why not? Este raciocínio já me tinha auxiliado a dar cabo das baratas no apartamento onde antes morávamos.

Ora, encontrar o dito pesticida requer persistência e determinação, características muito minhas, que já desesperaram as minhas filhas (a mãe é mesmo chata), mas que me têm servido muito bem na resolução de problemas vários, que mais ninguém se dispõe a resolver.

De tanto perguntar, cheguei a uma situação em que recebi um SMS com o número de telefone de uma senhora que vendia o dito pesticida particularmente. Depois de lhe falar fiquei a saber que o negócio era doméstico e familiar (mãe e filha) uma vendia no Maputo e outra na Matola, nas respectivas casas.

Optei pelo Maputo e telefonei a pedir direcção e indicações.

O bairro é daqueles onde só digo ao meu marido que fui, depois de já ter ido. Não conheço muito expatriado que por lá ande com à-vontade.

Mas eu fui, porque a alternativa era continuar com baratas.

Tudo, absolutamente tudo o que eu perguntei, saiu exactamente ao contrário: onde ela me dizia que eu deveria descer, tive que subir, onde ela me dizia que deveria virar à esquerda, virei à direita, etc.  

Mas, lá está, eu sou persistente: já não tenho baratas em casa.

Como me dizia quem me vendeu uma gota em cada canto da casa e é tiro e queda.

Devagar, vou-me esforçando para esquecer este meu comportamento.

 

 


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