se vai ao longe? ou nunca se chega? Em terras do Índico, vamos abrandar...
21
Fev 13
publicado por devagar, às 14:08link do post | comentar | ver comentários (2)

Ainda não me referi aqui ao AF (=african factor) que é mais ou menos um vírus, que ataca muitas vezes e que se resume no seguinte: tudo acontece não como se previa mas de outra maneira, ou com atrasos incompreensíveis. Vou dar alguns exemplos do dia-a-dia.

Hoje fui ao banco levantar cheques. Estava na fila e veio a gerente muito sorridente e simpática ter comigo, porque me viu entrar. Deu-me um envelope com os cheques, eu assinei o papel comprovativo e guardei o envelope. Tinha que ter conferido, o que não fiz em frente à referida senhora porque pensei que seria uma indelicadeza...chego a casa e recebo telefonema a avisar que tinha que ir ao banco amanhã porque não me tinham dado os cheques todos: sorry!

Nem refilei, porque sei que o AF faz com que as coisas não aconteçam à primeira, e já nem estranho quando sistematicamente adiam projectos e reuniões que estavam marcadas e remarcadas. Estive envolvida num projecto que deveria começar em Março e só se deu em Outubro, na precisa semana em que eu mudei de casa: AF.

Vou ao cabeleireiro, onde vou desde que cá cheguei, portanto há já alguns anos, fazer o que faço de todas as vezes que lá vou, e que supostamente está escrito na ficha de cliente (nunca vi tal ficha, mas porque haveria de duvidar da respectiva existência?) e confio os meus cabelos à empregada, porque a proprietária diz com autoridade antes de sair porta fora, que ela estar ou não estar era a mesma coisa, o pessoal sabia o que fazer.

Porém, o cabelo sai de cor alaranjada, as madeixas de um amarelado inqualificável e a rapariga, com o ar impávido de sempre, propõe emendas, de que eu fujo horrorizada e sem pagar.

Na rua ando com à-vontade porque aqui ninguém liga - e a ajuízar pela maneira como se apresentam até devem gostar -  porém vou evitando os locais com gente conhecida porque tenho vergonha.

Demorou uma semana para conseguir reparar o erro, com vários desencontros e eu passei do muito chateada para o conformada com rapidez: afinal era o AF.


A falar com uma amiga moçambicana que é economista, referiu que quem quisesse montar um negócio aqui tinha que fazer estudos com imensas variáveis, o que não era necessário considerar noutros locais, senão tudo saíria errado: e eu dei comigo a pensar no AF.

Quem é de cá leva o AF na boa, nós vamo-nos habituando e com o tempo a coisa vai.

E depois há situações com graça, apesar de trágicas, e que me parece têm uma pitada de AF.

Há dias houve um assalto aos Correios de Marracuene, porque nesse dia os velhinhos iam levantar as pensões (que são miseráveis, mas muitas parcelas pequenas conseguem fazer uma soma interessante) e a televisão foi lá entrevistar alguns dos lesados, que pouco diziam... e as autoridades, convidadas a dizer de sua justiça. Ora, no caso vertente, a autoridade era do género feminino, idade madura, corpo de quem não passa fome, algum cuidado com a imagem porque estava a usar os seus 5 minutos de fama na TV... e referindo-se à premeditação do roubo utilizou estes termos:

Os ladrões fizeram um estudo de viabilidade e resolveram praticar o assalto.

E já ouvimos outras frases únicas, como a situação de alguém que morrera ao atravessar um rio infestado de crocodilos, ou como dizia o repórter com ar grave: a senhora ía a atravessar e foi agredida por um crocodilo.

Por aqui tudo mais ou menos como sempre, ou seja devagar.

Foto do blog Africa, This is Why I live here

 

 


10
Fev 13
publicado por devagar, às 14:00link do post | comentar | ver comentários (6)

À medida que o tempo passa nós deveríamos habituarmo-nos ao lifestyle daqui e sentirmo-nos cada vez mais adaptados.

Mas nem sempre. Já verifico tudo com cuidado, desde as contas no supermercado, na bomba de gazolina, no cabeleireiro, etc., senão corro o risco de ser enganada. Porém ainda há coisas que são de dificil aceitação. 

Explico algumas situações:

1. Abrir uma conta no banco deveria ser fácil. Mas nem sempre. Tenho uma conta aberta num dos maiores bancos deste país há quase 4 semanas, porém ainda não tenho nem cartão de débito, nem os códigos para o e-banking, nem sequer livro de cheques.

Também desespero quando telefono para a gerente de conta: raras vezes atende à primeira e quando falo com ela não tem uma resposta para a minha pergunta. Diz-me hei-de saber e depois hei-de ligar - o que não acontece. Volto a telefonar se quero alguma informação, que geralmente vem enganada, mas enganos aqui é normal

 

2. Telemóvel que se leva daqui para Lisboa, que se deixa desligado durante todo a estadia, de repente tem uma conta ao regresso absurda, muito alta e inusitada no perfil de cliente. Já regressámos de Lisboa quase há um mês e ainda não conseguimos deslindar este imbroglio. Aqui também nada do que nos dizem que vão fazer acontece. E somos nós que temos que analisar com detalhe o extracto de conta corrente, que nos enviaram em bruto por email, e mostrar as incongruências, desde provar que à data em que nos dizem que fizemos algumas chamadas de Lisboa já estávamos no Maputo (e apresentamos cópia do bilhete de avião) a demonstrar que é impossível fazermos chamadas de 4 minutos, para o mesmo número com segundos de diferença do início das mesmas. Estamos a aguardar: hei-de ligar...

Aqui não se admite um erro com facilidade.

 

3. E neste fim de semana, fruto - dizem - de um erro humano, Maputo, Matola e grande parte da zona sul do país estiveram cerca de 24h sem luz, o que significou problemas MEGA em variadíssimas áreas. Estamos em época de muito calor e tudo descongela num instante nas nossas casa e nos muitos estabelecimentos que vendem congelados e não têm gerador... e como dormir com o ar condicionado ligado é uma necessidade - passámos mal, ou como dizem aqui: sacrificámos!

Mas não fomos poupados ao barulho de uma sexta-feira à noite, como dizia uma amiga: Ainda tens as baterias de carro pra bombar um som, e a luz dos fogareiros dos brais (=churrasco). O people safa-se, a festa é que não para. 

Ninguém explica o que aconteceu, fala-se numa operação rotineira na central eléctrica e nós pensamos que foi alguém que não respeitou os procedimentos.

O apagão levantou muita especulação, porque nesta cidade correm boatos com facilidade.

Hoje havia luz, mas os multibancos nas lojas estavam a funcionar mal, e os ATM's não tinham dinheiro.

O balanço das ocorrências numa cidade às escuras, onde se assalta com muito à-vontade e se conduz de noite sem luzes, também não veio a público, o que por sua vez dá azo a mais boataria...

Uma semana que começa devagar.


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