Estive 3 semanas na Europa.
Durante as quais, e inexplicavelmente segundo os meus vizinhos (este é um prédio família, tranquilo onde todos se conhecem de há muito), assaltaram o nosso apartamento, em pleno Sábado à tarde, quando por pouco tempo não esteve ninguém em casa, e roubaram despudoradamente pedaços da nossa vida, menos da minha porque levei comigo a parte mais importante da minha informática, mas tudo o que era computador, televisão, óculos escuros graduados, flash pens, leitor de DVD, telemóveis, ténis, tudo foi levado, tudo foi mexido, gavetas esventradas. Pensamos nós por amadores - por aquilo que fizeram e por aquilo que não souberam fazer - gente miserável, sem emprego, com muita vontade de ter e sem a noção mínima do que é ser, com muitas horas de frustração em cima e muitos anúncios vistos na televisão a mostrarem que o ter afinal é que dá felicidade.
Em teoria, percebemos e compreendemos tudo, na prática é muito mais difícil de aceitar.
A polícia foi um filme, com enormes esperas para nada, apenas a sensação de total inoperância e descaso e de que estamos reconhecida e conscientemente sozinhos e temos que tomar as nossas precauções.
E, no fundo de nós mesmos, sentimos que tudo mudou sem retorno.
Correram por aqui versões várias, todas possíveis, mas que nada adiantam porque pouco se faz no sentido de apanhar quem quer que fosse, ou de alterar o status quo, no fundo quem é de cá vai pensando que podemos suportar isto tudo.
Voltei para uma casa - um espaço com que até agora nos identificámos e que considerámos um porto seguro - sem perceber bem como vou conseguir habitá-lo.
Para já fechadíssima e sem vontade de sair de casa.
Ao falarmos com outras pessoas tomamos conhecimento que já aconteceu a muitos, e temos que nos confrontar com a realidade não mediática mas verdadeiramente real do que de facto é esta cidade.
Devagar, vamos tentar ultrapassar.