...escrevo aqui sem saber bem porquê.
Explico: iniciei um projecto light, com humor, amigos saberiam da minha second life no Maputo sem grande esforço, e eu passava a escrito uma experiência social riquíssima e, neste mundo em globalização, potencialmente interessante para muita gente.
À medida que o tempo foi passando, e já há quase 4 anos que iniciei este blog, fui-me apercebendo dos enormes problemas que os Moçambicanos - a gigantesca maioria deles - enfrentam sem esperança no dia-a-dia.
Tem sido crescentemente difícil abster-me desse contexto.
Regressei há dias da Europa, onde fui ver a família e dei um salto a Strasburg, para concluir um projecto. A crise que a Europa enfrenta, e com que Portugal se debate diariamente, é nada comparada com o quotidiano da miséria daqui.
Lixo nas ruas de Maputo: é assim por todo o lado.
Há mais problemas no país, mais dificuldades no diálogo político e na circulação viária na zona centro, há mais lixo nas ruas, mais mortes nas estradas (por fim de semana no Maputo morrem cerca de 35 pessoas em acidentes de automóvel), e mais cerveja por menos dinheiro: compram-se 3 cervejas por 100 meticais (cerca de 2,5 €). A nova campanha ajuda a manter alta a estatística dos acidentes e faz esquecer o quotidiano pesado: nos fins de semana, pelas ruas do Maputo, há inúmeras barraquinhas onde grupos bebem cerveja a ouvir música que vem das colunas instaladas nas bagageiras dos carros e que bombam um som. Por vezes sentam-se no passeio, ou em caixas de madeira, outros sítios há com cadeiras de plástico...estão todos cheios. E a poluição sonora atinge níveis absolutamente inacreditáveis.
E de tudo isto se faz o quotidiano de desespero desta cidade.
Mas é um desespero bem disposto e sorridente, e nisto África é única. E talvez seja isso que permite a sobrevivência.
É claro que há outros Maputo, mas são mesmo minoritários, e incluem até gente que muito aprecio, gente que é muito capaz e muito gente, mas compreendo que não vão conseguir fazer a diferença.