A rapidez da tecnologia tornou-nos seres muito impacientes.
Esperar é um acto muito difícil, para desespero de quem espera e de quem está ao lado de quem espera.
Explico:
Por vezes o Multibanco não funciona, e geralmente é por causa das linhas. Aqui fica toda a gente à beira de um ataque de nervos.
Na semana passada, depois de ter feito lista de compras, e ido ao supermercado fazer as ditas
... e aqui as compras não são brincadeira, nunca há tudo o que queremos no mesmo sítio, a lista se não está bem feita é uma trabalheira ter que dar as voltas todas outra vez, e os preços têm diferenças loucas, então mesmo havendo os artigos há que diversificar com o olho vivo senão somos depenados - estou farta de dizer aqui que Maputo é uma cidade onde viver custa mesmo muito dinheiro ...
fui, já com o papel da máquina registadora na mão, ao balcão onde está o malfadado aparelho do multibanco, para pagar a conta de uma série de coisas que já estavam todas em sacos.
... e aqui há a 'saco-mania', tudo se mete em sacos, não se aproveita o espaço dos sacos, muito menos o ambiente, quando há vento (e aqui há muito vento) andam sacos pelos ares numa dança estranha e macabra...sacos esses que estavam já no carrinho para o empregado ir atrás de mim (aqui dizem carinho, porque quando estão dois RR não carregam no som e quando está só um carregam e bem, mas isto são coisas a que nos habituamos e deixamos de estranhar) dizia eu que o empregado iria com o carrinho atrás de mim para meter os sacos na bagageira e guardar a gorjeta - que aqui é uma obrigação (e lá está, esta cidade obriga-nos a ter trocos que é dificílimo, porque ninguém aqui tem a noção de que os trocos são obrigação de quem vende e não de quem compra)...
Então o cartão passou na máquina uma série de vezes, mas a comunicação não acontecia, e atrás de mim crescia a fila de várias senhoras à espera do mesmo, e já assopravam, impacientes com a espera, diziam imensos impropérios ao rapaz que estava atrás do balcão, pondo em causa a sua capacidade de executar a operação.
Havia dois aparelhos Multibanco, um do BIM (=Millenium) e outro do BCI (=CGD). O rapaz tentava ora num ora noutro. Depois mexia nos fios do telefone, que desligava e ligava, gritava em Changane (dialecto local) para os colegas (suponho para que desligassem o telefone do balcão onde está a máquina registadora com o respectivo monhé a controlar o movimento), mexia no aparelho de fax, tudo atrás do balcão num emaranhado de ligações manhosas, e cada vez que desligava fios a máquina do multibanco desligava-se e era necessário recomeçar as tentativas só depois da máquina voltar a parecer 'viva', o que não era imediato, e depois de tudo isto - nada.
E a mulherada atrás de mim totalmente impaciente reclamava e muito e o rapaz estava a ficar em stress.
Para aliviar o ambiente disse ao rapaz
- Já reparou que uma máquina fala português e a outra inglês?
Ele nada
Eu insisti:
- Esta diz 'a ligar' e a outra dizia o mesmo mas em inglês.
Ele olhou para mim e disse, com ar de quem muito sabe:
- Não, aquela lá dizia a conectar (=connecting).
A mulherada aqui refilou e bem, que o puto não sabia nada, que era um ignorante, que o que dizia era uma falta de respeito...
E como a dita máquina nem ligou nem conectou nem coisa nehuma, deixei-os todos a falar uns com os outros, o rapaz, a mulherada, o dono do supermercado, os empregados, o rapaz do carrinho cheio de compras...
E fui recomeçar os mesmos procedimentos noutro lado, no caso no Shoprite, sem saber se encontraria por ali o polícia ladrão (que também é coisa que já deixei de estranhar).
As compras vão-se fazendo ... devagar.