Inacreditável, estou aqui há um mês e tenho a sensação de estar aqui há muito mais tempo, tudo se enrola, os discursos repetem-se e na realidade acontece pouca coisa, mas paira a ameaça de que tudo vai piorar.
O discurso da austeridade é demagógico e perigoso, os assuntos estão mal analisados, as ameaças de catástrofe eminente exageradas. Incomoda-me o tom do discurso dos dirigentes (nacionais e europeus) e a forma como se colocam numa nuvenzinha asséptica e moralmente superior.
Tenho vivido nos últimos meses num país em desenvolvimento, onde convivem às claras a corrupção e o mercado informal, onde se respira e se vive sem crispações. E a crise, permanente para a maioria, passa ao lado.
Tenho saudades dessa vida à beira do Índico.
Indigno-me quando os mercados depõem governos e rejeitam a clarificação do voto democrático, sobremaneira preocupados com os contágios: trata-se de uma praga, e tem a carga negativa de outras pragas: os não contagiados só querem distância.
Casa do vizinho a arder...
O nosso Cavaco perante plateia de universitários, defende que o caso da Grécia é isolado e temos todos 'que construir um firewall para isolar a Grécia'.
Acredita quem quer.
Reparo que a compra dos submarinos alemães foi branqueada - os spin doctors consideram todo o povo estúpido e manipulável. Hoje uma amiga dizia-me que os governantes só defendem o diálogo até à primeira greve, depois deixam de fazer operações de charme. Melhor assim, fica mais claro.
Dou por mim a pensar que o poder corrompe sempre, mais os deslumbrados inexperientes.