Maputo está diferente desde que os raptos de 3 pessoas da comunidade portuguesa foram divulgados nos principais meios de comunicação social.
Não é algo perceptível ao primeiro olhar, é preciso já cá estar há algum tempo para absorver esta onda triste e silenciosa que vai percorrendo amigos e conhecidos e persiste em não desaparecer. As pessoas não gostam de verificar a sua própria impotência perante os acontecimentos que se deram e fizeram o pleno nalguns jornais portugueses que enviaram jornalistas de primeira água para reportar.
O ambiente pesado que se vive resulta também da percepção de aquilo que parecia ser um caminho seguro e sustentável para o desenvolvimento poder, de repente, deixar de ser uma certeza e não ser nem caminho, nem seguro, nem sustentável.
Os restaurantes à noite têm pouca gente, os parques infantis estão sem crianças, as pessoas questionam-se se isto irá passar ou continuar e por quanto tempo, e esta incerteza gera altos níveis de ansiedade.
Obras aprazadas vão-se adiando, compras orçamentadas também - já agora o melhor é esperar.
Amigos de cá dizem-me que estas situações não são inéditas, que se verificam em países em desenvolvimento, perante o aparecimentos de abundantes recursos naturais, dizem-me também que são situações que não perduram. E todos queremos acreditar que sim.
As recomendações do Consulado mantêm-se: muita cautela, não facilitar, e chegam por mail e facebook.
Também me chegam emails sobre o que fazer no caso de ser raptado e como reagir a SMS ou chamadas ameaçadoras.
E há pessoas que não saem de casa, tolhidas pelo medo, ficam presas nessa armadilha.
Coisas que há pouco tempo não fariam sentido nenhum.
Há uma evidente contenção social a par de uma vontade (muito) decidida de se acreditar num futuro novamente normal, com problemas normais.
A rotina, o dia-a-dia sem surpresas, a vida calma desta cidade, coisas que de repente todos (re)valorizam tanto.
Tudo mesmo devagar.