se vai ao longe? ou nunca se chega? Em terras do Índico, vamos abrandar...
03
Dez 11
publicado por devagar, às 18:15link do post | comentar

Por várias razões, nem sempre é fácil escrever sobre Moçambique: quem vive lá desde sempre considera que sabe mais do que eu; quem de lá saiu nos anos 70 fixou memórias utópicas e depuradas, e não reconhece o que escrevo; e, porque de África tenho uma experiência recente (significando que não percebo nada disto).

Daqui resulta ter reacções diferentes se escrevo histórias contadas por veteranos, ou se apresento interpretações minhas  contrárias ao mainstream consensual.

Do que eu tenho vivido, do que eu vejo e sinto, sou testemunha única. Tento compreender, sem generalizar, sem projectar estereótipos, sem julgar fora dos contextos culturais. Este esforço só eu valorizo. 

Enfim...

Sou a favor da diversidade, penso que a homogeneidade é inventada, parente do wishful thinking, o que é humano é essencialmente heterogéneo. O que nos dizem ser normal, muitas vezes é-o só para alguns, que de forma consciente ou não excluem os outros, que são menorizados.

Os profissionais da moda estão de olho nas ruas, não para procurar modelos, mas para se inspirarem

 

Pensar nestes assuntos leva-me a compreender a minha imediata empatia com Moçambique, desde a primeira visita, em 2005. Lá gosta-se e vive-se a heterogeneidade, nas várias línguas que os nativos falam, nas várias religiões que co-existem pacificamente, na personalização de uma simples capulana que se passeia pelas ruas, despretensiosa e elegante e em tantas outras infimas coisas. E a heterogeneidade que eu vejo pelas ruas é muito alegre o que, nos tempos que correm, não é de somenos e valia a pena importarmos para aqui às toneladas.

Estas aprendizagens vão-se fazendo devagar.

Os Tofo Tofo, dançarinos moçambicanos que inspiraram Beyoncé.

 

 

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28
Set 11
publicado por devagar, às 16:06link do post | comentar | ver comentários (2)

Neste continente passam-se coisas que só são do conhecimento de quem por aqui anda.

Os relatos dessas mesmas coisas têm alimentado um imaginário literário, cheio de aventuras românticas e rocambolescas, com heróis fantásticos, nativos estúpidos, exotismos e cenas imaginadas e na prática inviáveis. Caso do Tarzan of the Apes, (1912) com herói de sangue azul, pele branca, criado por macacos e que aprende a ler sozinho, ou mesmo o Tintin au Congo, (1931) cuja visão depreciativa e racista dos nativos o impede hoje em dia de integrar o acervo de muitas bibliotecas infantis.

Estas visões utópicas de África ainda continuam a atrair muitos turistas ocidentais, talvez por serem tão diferentes do life style do betão civilizado das catedrais de consumo e da sociedade formatada por Bruxelas ou Washington. É vê-los chegar aqui vestidos para o tour e a aventura de África, muito caqui e muitos gadjets que não servem para nada. Andar no mato requer treino físico, disciplina e competências específicas, entre as quais o descaso pelo conforto e a flexibilidade mental. Não estou a ver nenhum daqueles turistas a enfrentar o mato sozinho...

Aqui há o desenrascanso generalizado de que já tenho feito relato e há a natureza em estado bruto que não se domestica. E heróis não existem, apenas gente que pretende sobreviver, o que nem sempre é fácil.

Isto a propósito de um trabalhador da Mozaperfis que foi enviado na semana passada de avião para Pemba (ex-Porto Amélia) para instalar janelas e portas de alumínio em construções recentes de algumas agências bancárias. Ora estas não estão no mato, onde não há população a fazer depósitos e a utilizar ATM's. E Pemba, cidade costeira capital de Cabo Delgado e com grande relevância económica, tem aeroporto e comunicação aérea diária para o Maputo, porque o país é de uma dimensão assustadora e não há auto-estradas, às vezes nem estradas... Esse trabalhador deslocava-se com o engenheiro dono da obra de carro ao fim do dia, e a noite no hemisfério Sul cai rápida. Na estrada foram surpreendidos por alguns populares com archotes a mandá-los parar. Aqui por regra não é aconselhável parar na estrada escura, archotes ou não, e eles continuaram. Mais à frente voltaram a ser interrompidos por archotes e os sinais da população para que parassem - é que bem à frente deles passava uma enorme manada de elefantes na estrada. Conseguiram fazer marcha atrás e mudar de direcção, enfrentando o medo que sentiram: há várias notícias de elefantes que matam pessoas...

Na zona há muitas manadas de elefantes a importunar as populações, e há necessidade ou de matar alguns ou de os recolocar, o que nem sempre é fácil e fazendo-se não tem garantias de eficácia. Famílias de elefantes que foram sedadas no Kruger Park, transportadas para a Gorongosa e devolvidas ao mato moçambicano voltaram para o Kruger Park, não se entendendo a bússola que possuem. Mas possuem.

E ninguém quer ter a aventura de andar na estrada e cruzar-se com elefantes em movimento. A população defende-se com o ancestral fogo e avisa quem passa, porque também quer ser avisada quando em situação análoga. Não há por aqui nem 112 nem protecção civil que se chame numa situação destas.

Tudo isto anda devagar.


16
Ago 10
publicado por devagar, às 18:12link do post | comentar | ver comentários (1)

Apreciar a vida.

Abrandar.

Saborear.

Viver com tempo.

D-e-v-a-g-a-r.

Tudo, absolutamente tudo mais devagar.

Prioridade às pessoas, aos afectos.

Prioridade à v-i-d-a.

 

 

 

 


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