No dicionário a palavra moçambicana banja quer dizer reunião ou assembleia. Entrou no dia-a-dia e significa uma reunião, com alguma formalidade, em que o objectivo é divulgar informações, chamar a atenção, repreender, ou mesmo fazer a cabeça de alguém - caso dos comícios da Frelimo.
Há banja quando se passa alguma coisa. Marido e mulher estão a conversar porque as coisas não andam bem - é banja; pais estão chateados com os fracos resultados académicos dos filhos - e vai haver banja; patrão está descontente com empregados - banja no final do expediente.
É um conceito maior do que as muitas reuniões que nele cabem por se relacionar com um life-style antigo com várias finalidades em que as pessoas se sentam e ouvem alguém que fala. Através das banjas as comunidades das terras longínquas eram informadas das novidades, desde as leis aos impostos, guerras, desgraças e abundâncias... quem falava utilizava muitas vezes um tradutor, porque muitos eram (e são) os dialectos. Quando o Presidente da República se desloca às regiões mais afastadas, usa o português e ao seu lado tem um tradutor, que tudo repete no dialecto da terra. Fala, gesticula e faz mímicas. Já vi Gebuza fazê-lo em reportagem da televisão, e pensei que a imagem tem um impacto imediato.
Coisas que passam ao lado do visitante das férias nas maravilhosas praias.
E isto relacionado com dois episódios.
1º Por nos terem roubado do jipe, pela enésima vez, o macaco. Como se pensou que teria sido na fábrica, houve banja ao fim do dia. Resultados nulos, mas uma descarga de stress antes do regresso a casa.
2º Por um amigo, a propósito, nos contar que também fizera banja aos empregados, com criticas e soluções de prémios e objectivos de produtividade - coisas muito à frente e modernas. No dia seguinte perguntou a um dos homens de confiança qual fora a reacção dos empregados à banja. Foi-lhe respondido que nula. Indagados alguns empregados sobre o que pensavam da banja, a resposta foi sempre a mesma: ele só falou.
A minha sogra, nascida e criada na Beira, conta com graça, como viu tradutores na época colonial ante-bellum que diziam uma só frase para traduzir vinte minutos de oratória da administração branca e lusa.
E de banja ficamos entendidos: quando é só conversa nem vale a pena traduzir, idem aspas quando não se quer tomar conhecimento.
Formas de estar devagar.