Este blog mudou - por algum tempo - de hemisfério.
Deixei o Índico e vim - nem posso dizer que de férias - para a gelada Europa do Atlântico.
E já senti fortemente a nova geografia, quando recentemente estive parada duas horas e tal dentro de um avião no aeroporto da Portela à espera que a neve permitisse o take off para Frankfurt, onde, como quase todos os passageiros daquele avião, se perdesse a ligação seguinte via a minha vida muito alterada.
Houve quem não conseguisse esperar. Muito stress. Muita reclamação, muita falta de ar, muitos nervos em excesso, muitos telefonemas, muitos emails, muito, muito, muito.
Dentro de um avião cheio de gente, senti (o que me surpreendeu) como o Índico me faz falta. Tudo mais sereno, mais tranquilo, com mais qualidade porque mais lento; tudo slowing down, tudo - enfim - mais d-e-v-a-g-a-r. Voltei a sentir o peso da atlanticidade quando tive que andar à chuva, com um teimoso e persistente vento frio a entrar-me pela gola e a incomodar-me, e dei por mim a comparar esta chuva com a que me molha no Maputo - e gostei mais da que vem do Índico.
Saudades das pessoas daqui - imensas. E sei que não vão passar. E de nada vale pensar que, estando muito tempo junto de quem se sente saudade, esta irá - consequentemente - diminuir. Exactamente o contrário: aumenta. É um tempo que se sabe finito e efémero.
Estar longe abre esta ferida que não cicatriza nunca, e para a qual remédio não existe.
Rumar ao Índico irá, novamente, avivar a maldição de quem emigra, de quem se separa: a saudade permanente, a sensação de viver a vida por metade, de estar dividida.
E nada, absolutamente nada, fará mudar este sentimento. Sendo que no Índico a compensação vem do facto de se viver noutra velocidade: mais humanamente devagar.