De nossa casa à fronteira levamos 1 hora e uma vez passadas as formalidades do lado moçambicano e do lado sul africano (pode levar de 20 minutos a hora e meia, havendo facilitadores que nos tratam de tudo por alguns meticais negociados, mas temos que os conhecer senão pode correr menos bem...) andamos cerca de 8 quilómetros e estamos num paraíso terrestre que se chama Kruger Park.
Entrar no Kruger requer preenchimento de papeis, por vezes abrir o porta bagagens de acordo com um qualquer critério aleatório, pagamento de bilhete se somos só visitantes (europeus pagam cerca de 20€), porque se ficarmos a dormir num dos acampamentos do parque não pagamos entrance fee, e podemos usar as casas de banho, imaculadamente limpas e a cheirar bem, tomar uma bebida fresca, comprar mapas e brochuras de informações, saber se alguém avistou animais e onde, etc.
E aí com calma (anda-se devagar, o limite de velocidade são 50 km hora) podemos ver no seu habitat os animais do nosso imaginário africano, alimentado por tantas histórias de aventuras.
Para o fazermos há todo um processo, que se aprende por intuição e bom senso e na falta deste (Descartes dizia que todos tinham o suficiente, mas eu sinceramente duvido) observação do comportamento dos habitués, que são muitos. Não é nada difícil, mas binóculos são essenciais e calma, muita calma.
Ontem fomos passar o dia no Kruger, a época seca é a melhor para avistar animais, e depois de 100 desesperantes minutos na fronteira tivemos um dia absolutamente fantástico.
No Kruger depressa nos habituamos a ver gazelas, kudus, zebras, hipopótamos, crocodilos, javalis, galinhas do mato, macacos e uma variedade infinita de pássaros. Deixamos de nos deter longamente a observá-los. O que verdadeiramente procuramos são os Big Five (leão, leopardo, rinoceronte, búfalo e elefante) nome que se tornou uma marca sul africana, um cliché do marketing mas que nos enchem as medidas quando os conseguimos ver no Kruger. São fáceis de ver os elefantes e os búfalos, depois o rinoceronte sendo mais dificeis os leões e os leopardos dificílimos.
Os carros param, ninguém passa, respeita-se com prazer o engarrafamento que se forma logo, os fotógrafos disparam non-stop impressionantes câmaras com teleobjectivas poderosas, e se tivermos que esperar 10 ou 15 minutos para chegarmos ao ponto de observação fazemo-lo de bom grado porque sabemos que vai valer a pena.
Ontem tivemos a sorte de ver um enorme leopardo, primeiro refastelado no tronco da árvore a dormir e depois a comer uma presa. Já tínhamos avistado 2 leopardos noutra visita, a correr em alta velocidade mesmo à frente do nosso carro, atravessando a estrada, mas ontem viu-se com tempo.
Vimos também 6 leões e leoas, ao fim da tarde, deitados na areia na margem do rio, provavelmente à espera dos animais que vêm beber água.
Detivemo-nos a vê-los, porque 6 leões também é um caso muito raro.
Nota negativa: duas jovens tugas num Ford branco de matrícula moçambicana, sem paciência para esperar, sem respeito por ninguém, sem compreenderem o momentum, muito incomodadas com a imobilidade dos carros, tudo fizeram para furar o engarrafamento, marchas à frente e atrás, uma tristeza...
Mas lá está, quando não se compreende o contexto a coisa não funciona e no Kruger anda-se devagar e é muito bom.